"O que chama a atenção no Brics é que o Brasil tem pessoas tão pobres quanto as mais pobres do mundo e tão ricas quanto as mais ricas", diz pesquisadora Maria Silvério.
Lisboa
- Entre as cinco maiores economias emergentes, o Brasil foi a que mais
diminuiu a desigualdade socioeconômica nas últimas duas décadas. A
conclusão consta de estudo comparativo, feito no ano passado com base em
dados secundários (de organismos multilaterais internacionais como as
Nações Unidas e o Banco Mundial) e publicado pelo Observatório das
Desigualdades da Universidade de Lisboa.
Segundo a autora do estudo, Maria Silvério (mestranda em antropologia
na área de migrações, globalização e multiculturalismo no Instituto
Universitário de Lisboa), o Brasil é, entre os países do Brics (grupo
formado pelo Brasil, a Rússia, Índia, China e África do Sul), o único
que "conseguiu diminuir consideravelmente a desigualdade de renda nos
últimos 20 anos, saindo de um [coeficiente de] Gini de 0,61 em 1990 para
0,54 em 2009". No índice (um dos mais usados para comparações
socioeconômicas entre países), criado pelo estatístico italiano Corrado
Gini, zero representa a igualdade total de renda.
Em intervalos de tempo nas duas últimas décadas, Maria Silvério
observou que os demais países tiveram concentração de renda. "A África
do Sul obteve um crescimento acentuado no Gini, que passou de 0,58 em
2000 para 0,67 em 2006 (...) A Rússia apresentou grandes oscilações no
Gini, que foi de 0,24 em 1988 para 0,46 em 1996. Em 2002, o índice caiu
para 0,36 e voltou a subir em 2008 para 0,42 (...) A China e a Índia
apresentaram em 2005 um coeficiente de Gini de 0,42 e 0,37,
respectivamente", mostra o trabalho.
Os dados revelam que apesar da melhoria, o Brasil ainda é o segundo
maior em desigualdade entre as grandes economias emergentes - só não é
pior que a África do Sul que, até meados da década de 1990, vivia sob o
apartheid (regime político e econômico de segregação racial). "O que
chama a atenção no Brics é que o Brasil tem pessoas tão pobres quanto as
mais pobres do mundo e tão ricas quanto as mais ricas", explicou a
pesquisadora à Agência Brasil.
Na opinião de Maria Silvério, a diminuição da desigualdade e o
consequente aumento da classe média podem favorecer o crescimento da
economia brasileira. "Normalmente, o que mais faz um país crescer é a
classe média, que consome muito. Por ser classe média, tem expectativa
de crescer mais ainda – o que fomenta a economia com maior circulação de
bens e a compra de automóveis e imóveis"; avalia.
Além do coeficiente de Gini, Maria Silvério comparou a situação de
homens e mulheres, a escolaridade e o acesso à saúde no Brics. À exceção
da África do Sul, aumentou a expectativa de vida e diminuiu a
mortalidade infantil entre as economias emergentes nos últimos 20 anos. O
Brasil apresentou o maior crescimento da expectativa de vida (7,2
anos) e tem, juntamente com a China, a população com idade mais longeva
(73,5 anos), em média.
A Rússia tem os melhores indicadores de mortalidade infantil e de
escolaridade. No ex-país socialista, a mortalidade caiu de 27 mortes de
crianças (até 5 anos) para cada mil nascidos (em 1990) para 12 óbitos na
mesma proporção (em 2009). O Brasil teve a queda mais acentuada: de 56
para 21 mortes para cada mil nascidos e está à frente da Índia e da
África do Sul (66 mortes).
Sobre a escolaridade média dos adultos, o Brasil (com 7,2 anos)
apresenta pior indicador do que a Rússia (9,8 anos), a África do Sul
(8,5 anos) e a China (7,5 anos) – superando apenas a Índia (4,4 anos). A
escolaridade entre os emergentes é mais baixa que nos Estados Unidos
(12,4 anos), na Alemanha (12,2), no Japão (11,6) e na França (10,6).
No Brics, o Brasil é o país com a maior proporção de mulheres com o
ensino médio completo Para cada grupo de mil homens com essa
escolaridade havia (em 2010) 1.054 mulheres com o mesmo tempo de escola.
Na China, há a maior proporção de mulheres no mercado de trabalho.
Para cada função de homem empregado, havia 0,805 função de mulheres
(dado de 2009). No Brasil, a proporção é de uma função de homem para
cada 0,734 de mulheres empregadas.
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