segunda-feira, outubro 11, 2010

Joaquim Nabuco e o abolicionismo

Atenção turmas do 3º ano!

Neste ano em que se comemora os 100 anos da morte do abolicionista Joaquim Nabuco faço sugestão de leitura de parte do texto de Ricardo Luiz de Souza em Tradição, identidade nacional e modernidade:


Escrevendo em 1900, Nabuco faz um balanço das análises até então efetuadas sobre o abolicionismo, apontando dois pontos de vista contrastantes: um que vê no abolicionismo "um movimento popular de tendências revolucionárias, que acabou por forçar o governo e a dinastia", e outro que realça o papel decisivo desempenhado pela própria Coroa, por ter ela assinado as leis de 1871 (em um momento, segundo ele, em que não havia nenhuma agitação nesse sentido) e de 1888 (Nabuco, 1949c, p.247-9).


Sua linha interpretativa filia-se, claramente, à segunda tendência, e temos um exemplo disso quando Nabuco define o discurso feito por Pedro II no Conselho de Estado como o fator de criação da questão servil, até então não posta em discussão (Nabuco, 1936, v. II, p. 24).

Enquanto dura a luta pela abolição, contudo, Nabuco critica a atitude tíbia adotada pela Monarquia em frente à questão. Tal crítica incide em três pontos que o autor sintetiza em carta a Patrocínio: nunca cumpriu a lei de 1831, que proibia o tráfico negreiro; deixou revogar a Lei do Ventre Livre; e chamou ao poder os conservadores em meio à luta emancipacionista (Nabuco, 1949d, v. I p. 149). O Nabuco abolicionista atribui, à Monarquia, a maior parte do que até então foi feito em termos de esforços abolicionistas, para em seguida acrescentar: "mas o que não se tem feito, podendo se fazer mas com vantagem, deve ser levado à mesma conta" (Nabuco, 1949a, p. 100).

Na contabilidade do feito e do por fazer, o resultado final, conclui Nabuco, é amplamente desfavorável ao Imperador: O que se tem feito por lei é devido principalmente a ele, mas o que a lei tem feito é muito pouco, é realmente nada, quando vemos que esse é o resultado de quarenta e seis anos de reinado e comparamos o que se salvou do naufrágio com o que se perdeu e se está perdendo! (Nabuco, 1949a, p. 244).

[...] todos os homens de governo entre nós, todos os depositários de uma parcela que fosse de autoridade, durante o período da escravidão, concorreram, direta ou indiretamente, para sustentar uma tirania pérfida, inquisitorial, torturante.

Pedro II é diretamente responsabilizado pela reação conservadora que se estruturou nos anos 80, a qual teria tido, nele, seu idealizador (Nabuco, 1949a, p. 257). A crítica de Nabuco faz eco, enfim, à então imagem corrente de Pedro II: a de um monarca mais preocupado com os estudos, aos quais se entrega com o ardor e a imperícia de um diletante - a astronomia, por exemplo -, que com os mais urgentes problemas nacionais. Nabuco desfere uma dura crítica ao Imperador, lembrando que "o que ele fez é nada ao lado do que ele podia ter feito, se a observação das senzalas lhe causasse tanto interesse como, por exemplo, a contemplação do céu" (Nabuco, 1949a, p. 252).


Fonte: seer.ufrgs.br/anos90/article/download/6360/3811




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