Na prática educacional e, em especial, no cotidiano escolar a linguagem
que utilizamos está marcada por expressões que, às vezes, inconscientemente,
contribuem para reforçar situações de preconceito, discriminação
e racismo. Por outro lado, vários termos e expressões vêm sendo utilizados
como parte das idéias e das ações anti-racistas. Alguns termos ainda não são
de circulação ampla. Portanto, apresentamos esse glossário composto por
muitas palavras e expressões citadas ao longo deste Plano de Ação e outras
que compreendemos como de veiculação necessária.
AFRICANIDADE: Em sentido geral, pensar em africanidade nos remete
ao sentido de reconhecimento tanto do lugar histórico, sociopolítico e lúdicocultural,
onde tudo se liga a tudo. Na prevalência da africanidade o universo
é gerado na existência coletiva, prevalecendo o Ser Humano e o Espaço enquanto
expressão da chamada força vital, imprescindível para evidenciar a
construção de uma identidade negra postulada na construção de um mundo
democrático. A africanidade reconstruída no Brasil está calcada nos valores
das tradições coletivas do amplo continente africano presente e recriada no
cotidiano dos grupos negros brasileiros.
AFRODESCENDENTE: O termo afrodescendente se refere aos/às
descendentes de africanos(as) na diáspora, em contextos de aproximação
política e cultural, e é utilizado como correlato de negros(as) (ou, às vezes
“pretos”) nos países de língua portuguesa, como o Brasil, de african american,
na língua inglesa, em países como Estados Unidos (onde se usa também o
termo black).
ANCESTRALIDADE: Para os povos africanos e seus descendentes, a ancestralidade
ocupa um lugar especial, tendo posição de destaque no conjunto de valores de mundo. Vincula-se à categoria de memória, ao contínuo civilizatório
africano que chegou aos dias atuais irradiando energia mítica e sagrada.
Integrantes do mundo invisível, os ancestrais orientam e sustentam os avanços coletivos da comunidade. A ancestralidade redefine a alegria de partilhar um espaço rodeado de práticas civilizatórias e o viver de nossos antepassados,
conduzindo para um processo de mudanças e enriquecimento individual e
coletivo em que o sentimento e a paixão estão sintonizados com o ser e o
comportamento das pessoas (SOUZA, 2003). A ancestralidade remete aos
mortos veneráveis, sejam os da família extensa, da aldeia, do quilombo, da
cidade, do reino ou império, e à reverência às forças cósmicas que governam
o universo, a natureza.
CULTURA/CULTURA NEGRA: Conceito central das humanidades e
das ciências sociais e que corresponde a um terreno explícito de lutas políticas.
Para Muniz Sodré, a demonstração de cultura está comprometida com
a demonstração da singularidade do indivíduo ou do grupo no mundo: “A
noção de cultura é indissociável da idéia de um campo normativo. Enquanto
ela emergia, no Ocidente, surgiam também as regras do campo cultural, com
suas sanções – positivas e negativas” (SODRÉ, 1988b). Podemos conceituar o termo cultura como estratégia central para a definição de identidades e de alteridades no mundo contemporâneo, um recurso para a afirmação da diferença e da exigência do seu reconhecimento e um campo de lutas e de
contradições.
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