Uma das poucas mulheres em um campo ainda dominado pelos homens, a belga Ingrid Daubechies é a primeira delas a presidir a União Internacional de Matemática (UIM). No Rio para participar do 29º Colóquio Brasileiro de Matemática, que é realizado desde a semana passada no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), ela acredita que a ciência pode se beneficiar de uma diversidade que vai muito além de uma simples questão de gênero, identificando e atraindo talentos nas mais variadas culturas e origens sociais.
- A matemática é uma forma de aprender sobre as coisas a partir de padrões abstratos, então quanto mais maneiras diferentes de pensar sobre as coisas tivermos, melhor - diz. - Assim, creio que devemos buscar talentos em todo tipo de lugar, e para isso temos que alcançar o maior número possível de pessoas. Claro que acredito e fico feliz em ver cada vez mais jovens mulheres interessadas em ciências e na matemática em particular, mas esta busca não deve se restringir a uma questão de gênero.
Segundo Ingrid, uma das maiores barreiras para a expansão da matemática é a noção errônea que as pessoas têm de que é preciso ser de alguma forma "especial" para se dedicar a este campo. E embora admita que os próprios matemáticos não têm sido muito eficazes em mudar essa visão, ela crê que com trabalho e iniciativas como a "Bridges" (pontes), conferência anual promovida pela UIM que reúne pesquisadores e artistas, o cenário pode ser diferente.
- A matemática é algo muito humano. As pessoas tendem a pensar que é preciso ser de alguma forma "especial" para estudar matemática, mas isso não é verdade. Ela é uma maneira de resolver problemas apenas pensando neles. Isso é algo muito poderoso que fazemos toda hora e gostamos de fazer - lembra. - Nos esportes, por exemplo, é preciso ser de certa forma especial para se tornar um atleta olímpico, mas isso não quer dizer que é também preciso ser especial para praticar esportes, ter prazer em praticá-los e até ficar bom neles. Com a matemática é a mesma coisa. Todo mundo pode praticar a matemática e ter prazer nisso.
Ingrid conta que mesmo entre os cientistas a matemática às vezes é vista como um campo hermético, restrito apenas aos "iniciados". Por isso, ela própria tem se dedicado a mostrar que ferramentas matemáticas podem ser muito úteis na solução de problemas que desafiam pesquisadores nas mais diferentes áreas. Prova disso é um de seus trabalhos mais recentes, em que a pedido de uma dupla de geofísicos - Anthony Dahlen e Guust Nolet - desenvolveu uma maneira de montar uma "radiografia" da Terra a partir de dados sísmicos dos grandes terremotos ocorridos nas últimas décadas, ajudando a revelar pela primeira vez estruturas das profundezas do planeta antes inacessíveis.
Para isso, Ingrid recorreu à sua especialidade, uma ferramenta matemática conhecida como wavelets ("pequenas ondas"). As equações com wavelets permitem decompor sinais complexos em suas características mais básicas e fundamentais, descartando informações redundantes ou sem interesse, mas mantendo-os fiéis à origem. Um exemplo disso é o padrão de imagens digitais JPG, muito comum na internet e cuja evolução, JPEG 2000, Ingrid ajudou a criar. Com ele, é possível "comprimir" o arquivo de uma foto até apenas 3,3% do original com um prejuízo mínimo para a imagem geral. No caso da "radiografia" da Terra, o problema era inverso, isto é, encontrar uma maneira de analisar e interpretar a relevância dos tênues sinais disponíveis. Com o modelo de Ingrid, porém, os geofísicos puderam confirmar a existência de colunas de material que sobem pelo manto terrestre desde o núcleo do planeta até a crosta, as chamadas "plumas", dando origem a cadeias de ilhas vulcânicas como o Havaí.
(Cesar Baima / O Globo)
http://oglobo.globo.com/ciencia/uma-mulher-lider-no-reino-dos-homens-9270453#ixzz2aWwsLgwS
no Jornal da Ciência
colaboração recebida por e-mail
do Professor João Batista do Nascimento
através do grupo blogs educativos yahoo
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