domingo, abril 25, 2010

Os Sertões: análise sociológica

Para as Turmas do 3º ano!

Euclydes da Cunha: as desigualdades e as violências formadoras da paisagem social brasileira

Euclydes da Cunha realizou uma das mais férteis interpretações do Brasil. A substancialidade de suas reflexões está no modo de ele apreender a complexidade das condições de formação, de sedimentação e de potencialização das desigualdades sociais e da violência no país.

O autor de Os sertões, obra publicada em 1902 e que se constituiu um marco do processo de desenvolvimento da sociologia no Brasil, traça um painel sobre os efeitos da miserabilidade e da violência na constituição do homem brasileiro (CUNHA, 1995). Segundo Euclydes da Cunha a simbiose da escravidão com o ouro, por exemplo, durante o ciclo da mineração (1695-1800), teria feito penetrar na organização social brasileira a mais extrema violência que teve como resultado o processo de potencialização da exclusão e da desigualdade (Cunha, 1966, p.124).

E de que modo isto teria ocorrido? A extração do ouro era comandada pelo Estado colonial que concentrava todos os poderes para destruir os colonizados que não se submetessem às ordens da Coroa portuguesa. A exploração, o chicote e a matança tornam-se os pilares de uma colonização destruidora da economia, da política e da sociedade como um todo.

"Parecia não haver intermediários àquela simbiose da escravidão com o ouro, porque não havia encontrá-los mesmo no agrupamento incaracterístico, e mais separador que unificador, dos solertes capitães-do-mato, dos meirinhos odientos, dos bravateadores oficiais de dragões, dos guarda-mares, dos escrivães, dos pedestres e dos exatores, açulados pelas ruas, farejando estradas e as picadas, perquerindo os córregos e os desmontes; em busca do escravo; filiando-se às pernas ágeis dos contrabandistas; colados no rastro dos contraventores; e espavorindo os faiscadores pobres, inquirindo, indagando, prendendo, intimando e, quase sempre, matando" (CUNHA, 1966, p.124).

A sociedade brasileira ter-se-ia formado, então, tendo a exclusão e a violência como seus elementos centrais. A colonização brasileira que se pautava na monocultura da cana-de-açucar e no trabalho escravo implementava um modo de organização social brutalizada por uma vivência marcada por ataques ferozes à terra e ao homem. O ciclo econômico subseqüente, ou seja, a mineração, interiorizou e potencializou relações sociais e políticas substancialmente violentas e excludentes.

A violência da Coroa portuguesa torna-se a base de ação do Estado que mesmo com a Independência e, depois, com a República, não apresentou qualquer empenho para que seus modos de operar fossem minimamente democráticos. Para Euclydes da Cunha ocorreram, em diversos momentos, movimentos que tentavam reverter as condições de exclusão e de violência, mas eles foram massacrados intermitentemente.

Tendo escrito suas obras no início do século XX, Euclides da Cunha chamava a atenção para o fato de que o país tinha uma dívida de 400 anos com a população, já que durante todos estes séculos não teria havido qualquer empenho dos setores preponderantes em reverter as condições de desigualdade, de exclusão e de violência.

A violência era, então, segundo ele, de caráter social (a vivência dos indivíduos estava marcada por relações pautadas no extremo desprezo pela vida humana), de caráter político ( as instituições políticas estavam fundadas na opressão) e de caráter econômico (a sedimentação de situações potencializadoras da desigualdade e da exploração através do chicote e da matança conforme ocorreu nas minas na extração do ouro).

As condições de riqueza e de miséria sustentadas pela violência dos colonizadores era visível, segundo ele, nas situações que iam “(...) dos congos3 tatuados que moirejavam nas lavras, com a rija envergadura mal velada pelas tangas estreitas (...) aos contratados (pela Coroa) ávidos e opulentos, passando por ali como se andassem nas cidades do reino, entrajando as casacas de veludo (...) abertas para que se visse o colete bordado de lantejoulas, descidas sobre os calções de seda de Macau atadas com fivelas de ouro. (...) A alpercata de couro cru estalava rudemente junto do sapato fino, pontiagudo, cravejado de pérolas. (...) O cacete de guarda-costas vibrava próximo do bastão de biqueira de ouro”(CUNHA, 1966, p.124).

A desigualdade e a violência davam, então, a tônica do modo de organização social que se instalara no país desde 1500. O grande desafio para o país seria encontrar formas de rompimento com os vícios sociais e políticos oriundos dessas condições. No início do século XX, Euclides da Cunha se ocupava em buscar as raízes das atitudes (dos dirigentes e da população em geral) impossibilitadoras de constituição de um processo de reversão da exclusão social.

No que concerne aos setores dirigentes visualizava-se a cristalização de comportamentos marcados pelo autoritarismo e pela conciliação. Quanto à população em geral verificava-se uma fragilidade formada pelos reveses de uma existência pautada na miserabilidade e na violência que bloqueavam as possibilidades de ela se constituir em forças sociais capazes de impulsionar mudanças substanciais.

Ocorreram rebeliões desta população paupérrima e abandonada à própria sorte. O movimento de Canudos (1896-1897) teria sido um desses movimentos que trazia à tona o abandono em que vivia uma parte significativa da população brasileira. A vigência de uma ordem desigual e excludente era posta às claras. A reação dos governantes e dos habitantes das maiores cidades , de modo geral, foi de uma ira incomensurável no sentido de exigir a exterminação total e absoluta da luta desencadeada por Antônio Conselheiro e de seus seguidores nos sertões da Bahia.

Note-se, porém, que, dentre os fundadores da sociologia brasileira, Euclydes da Cunha se destacava pela sua confiança nas possibilidades de modificações sociais que revertessem o quadro de desigualdade e violência. Segundo ele, as singularidades da formação brasileira teria constituido uma espécie de brasileiro (os sertanejos) forte que seria capaz de resistir a todas as adversidades, pobrezas e opressões. Esta resistência o impulsionaria às lutas para subverter as condições de desigualdade e de violência.

Mencionando a experiência de Canudos, ele afirmava que, diante de todos os reveses da guerra e do massacre, os sertanejos “permaneciam mudos, estóicos, inquebráveis. Pareciam ressurgir das cinzas. Canudos não se rendeu. Exemplo único na história brasileira. Resistiu até o esgotamento. Os sertanejos invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota. Ademais entalhava o cerne de uma nacionalidade. Atacava-se fundo a rocha viva da nossa raça. Vinha de molde a dinamite (...). Era a consagração” (CUNHA, 1995, p.629) de uma resistência ímpar fundada na singularidade de um tipo de existência social.

Fonte: www2.uel.br/.../

3 comentários:

  1. Euclydes da Cunha realizou uma das mais férteis interpretações do Brasil. O autor de Os sertões, obra publicada em 1902 e que se constituiu um marco do processo de desenvolvimento da sociologia no Brasil.
    os ciclos economicos ou seja a cana de açucar e a mineração interiorizou e pontencializou relações sociais e politicas substancialmente violentos e excludentes.
    A sociedade brasileira ter-se-ia formado, então, tendo a exclusão e a violência como seus elementos centrais
    o estado que mesmo com a independencia e depois com a republica não apresentou qualquer empenho para que seus modos de operar fossem minimamente democraticos.

    ALUNA: MEDELLEN ANDRESE

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  2. Euclides da Cunha
    Jornalista e Sociólogo,autor do livro "os sertões"
    que fala sobre Canudos,os efeitos da miserabilidade e da violência e foi um marco do processo de desenvolvimento da sociologia do Brasil.
    Durante o ciclo da mineração, interiorizou e potencializou relações sociais e políticas substancialmente violentas e excludentes.
    Assim na formação da sociedade Brasileira tem como seus elementos centrais a exclusão e a violência.
    O estado mesmo com a independência e depois com a república não apresentou qualquer empenho para reverter o quadro social.

    Deysiane Dias

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  3. As desigualdades e as violências formadoras da paisagem social brasileira.

    Euclydes da Cunha fez uma das mais férteis interpretações do Brasil,fez uma reflexão sobre as desigualdades sociais e a violência no país.Segundo Euclydes a escravidão com o ouro durante o ciclo de mineração,teria feito entrar na organização social brasileira a mais extrema violência.A sociedade brasileira se formou,tendo a exclusão e a violência como seus elementos centrais.
    O ciclo econômico subseqüente, ou seja, a mineração, interiorizou e potencializou relações sociais e políticas substancialmente violentas e excludentes.
    A violência da Coroa portuguesa se tornou a base de ação do Estado,mesmo com a Independência e,República, não fez nada para que seus modos de operar fossem pelo menos democráticos.

    Vanessa Oliveira ^^

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